CAPITALISMO
E A
TEORIA DOS GESTORES
Edmilson Marques
Publicação
original: Revista Enfrentamento, Ano 03, no 04,
Jan./Jun. de 2008. |
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Enfrentamento |
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Nenhuma teoria é
neutra, embora possam dar-se
ao conforto de
não explicitar os pressupostos
aqueles autores
que têm por si os valores
dominantes.
João Bernardo
A teoria dos gestores nasce num momento em que o
capitalismo alcança seu
estágio mais desenvolvido na história da humanidade. E a
principal questão que
buscaremos responder aqui, é se esta teoria contribui para o
esclarecimento da
essência do modo de produção capitalista, assim como para a
transformação do
mesmo.
A complexidade alcançada por tal teoria, é um dificultador
para uma
compreensão de seu posicionamento enquanto instrumento de luta
de uma
determinada classe. Portanto, utilizaremos um método que
possibilite chegarmos
a uma resposta concreta e sistematicamente próxima da realidade,
e do nosso
ponto de vista, o método dialético é essa possibilidade.
Antes de partirmos para a discussão que propomos,
gostaríamos de
salientar que uma teoria é um produto da realidade concreta.
Sendo assim, ela
pode tanto expressar o que de fato existe, quanto, ocultar a sua
essência.
Nesse sentido, os valores de quem interpreta a realidade
interfere diretamente
na sua expressão teórica. Ou seja,
A posição que o indivíduo ocupa numa
dada sociedade se
refere à qual classe ele pertence ou a partir de qual
perspectiva ele se
coloca. Embora seja raro, é possível um indivíduo de uma
classe partir da
perspectiva de outra, o que não o livra da possibilidade de
mesclar perspectivas
diferentes, ameaçando, assim, no caso do proletariado, a
possibilidade de uma
visão correta da realidade em sua totalidade (VIANA, 2007,
pág. 75).
Existem então aqueles teóricos que buscam interpretar a
realidade
intencionando fidedignamente a sua compreensão, embora, alguns
ficam na
superficialidade da realidade, conseqüência da própria ideologia
existente,
enquanto outros conseguem superar as barreiras do pensamento
dominante e
expressar realmente o existente, e aqueles que intencionam uma
interpretação de
validação de uma perspectiva particular, pessoal. A diferença de
ambas as
situações se encontra na intenção daquele que discute uma
determinada questão.
Enquanto uma busca a compreensão de uma determinada questão, a
outra busca a
sua ocultação. Bom. A partir de agora então, poderemos analisar
o tema de nossa
discussão.
João Bernardo ao desenvolver “sua teoria” dos gestores
parte dos mesmos
princípios já desenvolvidos por Karl Marx da produção da
mais-valia, porém,
algumas diferenças essenciais podem ser notadas em ambas as
teorias. Uma das
discordâncias que podemos citar de João Bernardo em relação a
Marx se refere às
classes fundamentais existentes no capitalismo, é neste ponto
que vamos, neste
texto, focar nossa discussão.
Marx, quando discutiu e analisou o capitalismo no século
XIX, partiu dos
pressupostos fundamentais da realidade que o envolvia. O
capitalismo já
apresentava claramente suas bases fundamentais formada a partir
da qual se
sustentaria até os tempos atuais. Foi quando afirmou que a
burguesia construiu
um mundo à sua imagem e semelhança. Se foi a burguesia, uma
classe que,
enquanto classe, destruiu um mundo e construiu outro, podemos
então, partir do
pressuposto que este mundo por ela criado, só não seria mais o
seu mundo, se a base
fundamental por ela criado fosse destruído. Ao transformar o
modo de produção
feudal, a burguesia intaura o seu modo de produção, o modo de
produção
capitalista. Segundo Marx,
A moderna sociedade burguesa, surgida
das ruínas da
sociedade feudal, não eliminou os antagonismos entre as
classes. Apenas
estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas
formas de luta em
lugar das antigas.
A nossa época, a época da burguesia,
caracteriza-se,
entretanto, por ter simplificado os antagonismos de classe. A
sociedade inteira
vai-se dividindo cada vez mais em dois grandes campos
inimigos, em duas grandes
classes diretamente opostas entre si: Burguesia e proletariado
(MARX, 2003,
pág. 46).
Se esse é um modo de produção que lhe diz respeito,
naturalmente que só
não seria mais um modo de produção burguês quando fosse
instituído outro modo
de produção, que não mais, o capitalista. Uma possibilidade é,
por exemplo, um
modo de produção autogestionário, fundamentado nos valores e
preceitos do
proletariado. Portanto, o modo de produção capitalista é um modo
de produção
criado e desenvolvido pela burguesia, e enquanto este existir,
se foi por ela
criado, naturalmente que será um modo de produção burguês e
aqueles que dele se
apropriar, estarão fazendo o mesmo jogo e estratégia desta
classe, logo, se
transformando em um deles, num burguês.
Mas a burguesia não está só nesta sua luta pela manutenção
e reprodução
do capitalismo, dos seus privilégios. Ela, por ser uma minoria,
necessita de
indivíduos que contribuam para a reprodução do capitalismo. Nem
que para se
manter como classe dominante ela ceda parte de seus privilégios,
da mais-valia
extorquida. É quando entra em cena a classe que lhe auxilia (a
burocracia) e
orienta na manutenção, organização e transformação contínua dos
espaços de
trabalho[1].
Porém, a burguesia, não é uma classe fechada em si, cujos
membros são
estáticos e inalterados. Ela acompanha o mesmo processo
existente do modo de produção
a que deu origem, ou seja, ela precisa se transformar
constantemente caso
queira continuar existindo enquanto classe dominante. É nesse
sentido que
podemos acompanhar as transformações que vem ocorrendo no
capitalismo moderno,
em relação às classes que dominam. A burguesia não é a única
classe dominante,
ela conta com seus auxiliares (a burocracia), que em relação ao
proletariado,
faz o mesmo jogo daquela. Mesmo os integrantes da burocracia,
não são
estáticos, no sentido de permanecerem sempre burocratas. Devido
seus valores
fetichistas crêem que também são capazes de se tornarem membros
da classe
burguesa. Tem-se então que membros da classe burguesa, muitas
vezes,
conseqüente das contradições do capitalismo, se tornam membros
da classe
inferior a ela, porém dominante, da burocracia, e
simultaneamente, membros da
burocracia também se tornam membros da classe superior a ela, da
classe
burguesa.
Nesta relação complexa existente no capitalismo moderno, a
classe
proletária continua sua vida num mundo hostil a ela. Enquanto
burgueses e
burocratas alternam entre si na organização do trabalho, a base
essencial da
moderna sociedade continua a mesma, e o proletariado continua
sua luta em busca
da transformação deste modo de produção que lhe oprime e o faz
oprimido.
Na “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” Marx fez as
seguintes
observações:
A “burocracia” é o “formalismo de
Estado” da
sociedade civil. Ela é a “consciência do Estado”, a “vontade
do Estado”, a
“potência do Estado” como uma corporação (em
contraposição ao
particular, o “interesse universal” pode se manter apenas como
um “particular”,
tanto quanto o particular, contraposto proteger a
universalidade imaginária
do interesse particular, o espírito corporativo, a fim de
proteger a
particularidade imaginária do interesse universal, seu próprio
espírito. O
estado deve ser corporação tanto quanto a corporação quer ser
Estado), como uma
sociedade particular, fechada, no Estado (MARX, 2005, pág.
65).
Lukács colocou que “a burocracia implica uma adaptação do
modo de vida e
do trabalho e paralelamente também da consciência aos
pressupostos
socioeconômicos gerais da economia capitalista” (LUKÀCS, 2003,
pág. 219).
A partir destas observações podemos observar algumas
características
assumidas pelo capitalismo moderno. Sendo o estado capitalista
um estado
burguês, e a burocracia, segundo Marx, a “vontade do estado”,
então, a
burocracia é uma das classes existentes no capitalismo que
busca, segundo
Lukács, adaptar o modo de vida e do trabalho ao capitalismo. E
na concepção de
estado em
A partir de agora podemos falar da teoria dos gestores.
Vamos citar
primeiramente um trecho do prefácio, do livro “Capital,
Sindicatos,
Gestores”, prefácio e livro do mesmo autor, João Bernardo.
No reduzido mundo capitalista dos
finais do século
dezoito e início do dezenove, o que depois se viu claramente
serem duas classes
distintas, o proletariado e a burguesia, confundiam-se do
mesmo lado das
barricadas no combate à aristocracia moribunda. Quando, em
resultado dessas
lutas, a classe burguesa se tornou hegemônica na sociedade,
passou para
primeiro plano o seu antagonismo prático com o proletariado, o
que permitiu a
compreensão de ambos como classes opostas e, do ponto de vista
proletário, a
crítica teórica da burguesia. Ao mesmo tempo os gestores
enfrentavam a
burguesia e substituíam-se-lhe progressivamente na apropriação
do capital, até
que, entre a primeira e a segunda guerras mundiais, foi o
conflito entre ambas
as classes capitalistas que ocupou as atenções. Em 1945
encerrou-se a questão,
estabelecendo-se os modos possíveis e as instituições
específicas por que a
classe dos gestores assume a hegemonia social e
secundarizando-se decisivamente
as formas particulares de apropriação de capital. A partir do
momento em que
são os gestores que comandam incontestadamente o capitalismo,
é o antagonismo
entre eles e a classe operária que passa para primeiro plano
(BERNARDO,1987,
pág. 9-10).
Como podemos observar neste trecho a concepção deste autor
com aquela
apresentada, contém algumas diferenças. A teoria dos gestores
não concebem a
burocracia e nem a burguesia. Nesta ótica, gestores e classe
operária compõe
fundamentalmente o capitalismo moderno. Os gestores, segundo
este autor,
“conduz o capitalismo na
ultrapassagem definitiva dos
particularismos econômicos”. [...] “São os agentes da
superação do
particularismo econômico tanto no interior de cada país, como
à escala
internacional” [...] “são grandes conjuntos de capitalistas,
politicamente
unificados, que exercem sobre os explorados o seu poder
enquanto coletivo
social e de uma forma direta” [...] “na dinâmica histórica a
planificação
resulta de convergência entre o processo de intervenção dos
aparelhos políticos
sobre o econômico [...] A classe dos gestores foi o agente
social ativo desta
convergência” [...] “O caráter unificatório e planificado que
os gestores
imprimem ao capitalismo exprime-se ao nível dos sistemas de
propriedade. No que
diz respeito aos gestores, e contrariamente à burguesia, a
propriedade
capitalista não é particularizada individualmente, mas
unificada por vastos
grupos gestoriais, que a detêm coletivamente” [...] “A classe
dos gestores
define-se, em resumo, pela unificação dos processos
econômicos, o
internacionalismo, a fusão do político e do econômico, a
planificação, o
caráter coletivo da propriedade” (BERNARDO, 1987, pág.
117-118).
Então, a partir da discussão feita por este pensador, duas
questões são
essencialmente evidenciadas, as quais diferenciam o que ele
chama de gestores,
da burguesia, bem como a hegemonia do primeiro sobre o segundo.
A primeira é a
de que com o processo de produção da mais-valia relativa,
produto de um
“processo produtivo decorrente do funcionamento econômico global
e da relação
de cada unidade econômica com tal funcionamento” (BERNARDO,
1991b, pág. 203),
desponta na sociedade como classe dominante uma classe que,
segundo ele,
existiu desde os primórdios do capitalismo, a classe dos
gestores, mas que,
antes, era submetida à hegemonia da burguesia, e com o processo
de produção
acentado sob as bases de produção da mais-valia relativa, essa
classe passa a
dominar. Deixemos o autor se expressar:
Quanto mais se aceleram os mecanismos
da mais-valia
relativa, quanto mais estreitamente a economia se integra,
tanto mais a
burguesia declina e os gestores se unificam e reforçam, até
aparecerem
claramente como os representantes do capital associado e
coletivo, isto é, como
capitalista globais” (BERNARDO, 1991b, pág. 217)
Assim, o proletariado passaria então a enfrentar uma nova
classe a classe
dos gestores. A segunda questão está associada à forma de
existência da
propriedade. Veja o final da citação anteriormente descrita: a
classe dos
gestores define-se, entre outras coisas, pelo caráter
coletivo da
propriedade. Sobre isso recorremos às suas palavras:
Os gestores aparecem assim como os
verdadeiros
representantes do capital associado. Quando se torna
independente da
propriedade privada, o controle passa a caber à classe dos
proprietários
coletivos de capital.
Dizer que “o controle se separou da
propriedade” é
hoje uma luga-comum, mas não se rata por isso de uma idéia
menos errada.
Aqueles que o afirmam operam, elogiosa ou criticamente, na
ficção jurídica
promovida pelos gestores, que convertem a sua forma coletiva
de propriedade do
capital numa mítica não-propriedade. O controle não substitui
a propriedade.
Enquanto expressão da atividade integradora e coordenadora, o
controle é o
veículo para a transformação de um dado tipo de propriedade, a
propriedade
privada do capital, numa de outro tipo, a propriedade coletiva
do capital
(BERNARDO, 1991b, pág. 211).
Por coincidência há uma grande semelhança entre essa
concepção e aquela defendida
pelos conservadores Adolf A. Berle e Gardiner C. Means em “A
Moderna
Sociedade Anônima e a Propriedade Privada”.
Com a crescente dispersão da
propriedade de ações nas
maiores companhias americanas, desenvolveu-se uma nova
condição relativamente a
seu controle. Os indivíduos que controlam a maior parte dessas
companhias não
são mais os proprietários dominantes. Aliás, não há
proprietários dominantes, e
o controle se mantém, em grande medida, separado da
propriedade (BERLE e MEANS,
1988, pág. 121).
Em relação ao caráter abrangente do capitalismo Marx já
havia apontado
essa sua característica quando tratava da produção capitalista.
Para ele a
produção capitalista é a
<<produção e reprodução do
conjunto da relação
numa escala alargada>>, e isso significa reprodução numa
forma
continuamente acrescida não só das categorias tipicamente
capitalista –
mercadorias, dinheiro, salário, mais-valia, lucro, etc. – mas
do conjunto das
relações sociais, e históricas, e acima de tudo a relação
<<trabalho
assalariado>>, sem as quais não seria possível nem o
próprio processo de
produção do capital, nem o prodigioso desenvolvimento das
forças produtivas a
ele ligado (MARX, 1975, pág. 09).
Portanto, não é criando novos conceitos e submetendo a
realidade a eles
que se explica o que existe em sua face real. O capitalismo
atual está passando
por mais uma de suas fases de desenvolvimento, cujas relações
sociais
fundamentais continuam as mesmas. A mais-valia é a essência do
capitalismo e as
classes que a faz existente também continua a existir, burguesia
e
proletariado, mediado pela burocracia. A idéia de gestores
oculta essa relação,
amortece a luta de classes. Mesmo partindo da essência da
realidade, produção
da mais-valia relativa, essa concepção torna invisível o que de
fundamental
permanece vivo no interior da classe proletária, a luta e a real
possibilidade
da transformação radical do modo de produção capitalista.
Além daquela primeira questão que apontamos na teoria dos
gestores existe
a segunda questão que é, em nossa concepção, uma outra forma
ideológica[2]
de
tal teoria, tratando da forma existente atualmente da
propriedade. A
propriedade é uma determinação do capitalismo, e aquela que é
utilizada para
privar os trabalhadores de produzirem para si, em detrimento de
uma produção
para o outro, para o proprietário. A característica acionária da
propriedade,
segundo a teoria dos gestores, sua forma “coletiva”, ao
contrário do que diz
não a torna coletiva. Mesmo instituindo uma forma jurídica da
propriedade dividida
em ações, o seu caráter privado não deixa de existir. Dizer que
a propriedade,
com o aparecimento de uma outra classe dominante, passa a
assumir um caráter
coletivo, oculta ao mesmo tempo, seu caráter privado e a
existência daqueles
que são privados de sua produção. A propriedade coletiva
pressupõe a
não-propriedade, o que é uma ideologia em solos capitalistas,
pois, a
propriedade continua sendo privilégio de uma minoria em
detrimento de uma
maioria. O coletivo pressupõe o não-capitalismo, a não
existência de
mais-valia, a não existência de burgueses e burocracia, a não
existência do
proletariado. Enquanto o não-capitalismo representa o desejo
efetivo e
expressão da luta dos que são explorados e não se efetiva, o
capitalismo
continua sendo uma realidade existente, bem como aquele que é
proprietário,
aqueles que lhes auxiliam na produção da mais-valia e
fundamentalmente aqueles
que são explorados, ou seja, continua a existir burguesia,
burocracia e
proletariado.
A propriedade não some, não se evapora, não se torna
coletiva com a
sociedade por ações. Aumenta o número de dependentes da
mais-valia,
naturalmente, exige-se uma organização do trabalho que aumente a
exploração, o
controle se torna mais forte ligado à propriedade e cada vez
mais, a classe
proletária se une enquanto classe frente à constante exploração
que sofre,
saindo dos locais de trabalho exaustos e desgostosos com a
opressão que sofre,
sem falar que é constrangido constantemente a perceber que os
meios de produção
que estão à sua frente, da forma que se relaciona consigo, lhe
confronta e o
constrange a buscar por sua libertação, pela autogestão de seu
trabalho, em
solos verdadeiramente dominado pela liberdade de organização
coletiva.
O capitalismo precisa se transformar continuamente para
continuar
existindo e a nova organização do trabalho bem como a nova
configuração dada às
relações sociais, é apenas mais uma forma desenvolvida pela
burguesia para
continuar reproduzindo o seu modo de vida, seus privilégios, em
detrimento da
exploração do proletariado, da produção e extração da
mais-valia.
Essa idéia dos gestores realmente impressiona e convence
muitos leitores
devido à sua forma potencialmente reflexiva, porém, fundamentada
em profundas
elucubrações que chega a ser dominada por um caráter mítico.
Não podemos deixar nos convencer pelas palavras. É preciso
analisá-las e
confrontá-las com as relações sociais realmente existentes,
chegar à sua
essência e daí, verificar conclusivamente a representação de
determinada teoria
em relação às classes existentes. Desse modo, apesar de não
excluir do cenário
produtivo a exploração sofrida pela classe trabalhadora, essa
teoria não dá
subsídios suficientes para se chegar à essência do capitalismo
moderno no
sentido de sua superação, e no capitalismo atual cumpre com a
tarefa dos
capitalistas de sistematizar uma idéia que não corresponde à sua
realidade. Na
ótica de João Bernardo, “quanto mais a economia se desenvolve e
se integra,
mais se consolidam os gestores” (BERNARDO, 1991b, pág. 216), em
outras
palavras, não é possível visualizar o seu fim, pois, como uma
característica do
capitalismo é sua transformação constante pressupõe então que o
capitalismo
sempre vai se desenvolver, e consolidar cada vez mais “os
gestores”. Por outro
lado, a economia não é autônoma e existe por si mesma. Ela
existe a partir da
existência de seres humanos cercados por determinadas relações
sociais. Eles
fazem a economia e a fazem de acordo com os valores do modo de
produção
existente. E dizer que quanto mais desenvolvida mais se
consolida esta idéia, é
dizer ao mesmo tempo que, não há possibilidades de nada mais
além do
capitalismo.
Finalizamos então dizendo que seguem em marcha constante o
desejo
fundamental do proletariado, “vencer a burguesia, para destruir
o capitalismo e
construir um novo sistema de produção coletivo” (PANNEKOEK,
2007, pág. 153).
Enquanto burguesia e sua classe auxiliar criam e transformam
continuamente o
modo de produção capitalista para continuar existindo enquanto
classe que
domina e vive da exploração do proletariado, este vive em busca
de sua
superação e da transformação radical do modo de produção
capitalista em um modo
de produção autogestionário.
Referências
BERLE,
Adolf A.
e MEANS, Gardiner C. A Moderna Sociedade Anônima e a
Propriedade Privada.
São Paulo, Nova Cultural, 1988.
BERNARDO,
João. Capital,
Sindicatos, Gestores. São Paulo, Vértice, 1987.
BERNARDO,
João. Dialéctica
da prática e da ideologia. São Paulo, Cortez, 1991a.
BERNARDO,
João. Economia
dos Conflitos Sociais. São Paulo, Cortez, 1991b.
LUKÁCS,
Georg. História
e Consciência de Classe. São Paulo, Martins Fontes,
2003.
MARX,
Karl. Capítulo
Inédito D’o Capital. Porto, Escorpião, 1975.
MARX,
Karl e
Engels. Manifesto do Partido Comunista. São
Paulo, Martin Claret,
2003.
MARX,
Karl. Crítica
da Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo,
Boitempo, 2005.
PANNEKOEK,
Anton.
A Revolução dos Trabalhadores. Barba Ruiva, 2007.
VIANA,
Nildo. Escritos
Metodológicos de Marx. Goiânia, Alternativa, 2007.
VIANA,
Nildo. Estado,
Democracia e Cidadania. Rio de Janeiro, Achiamé,
2003.
[1]
A
base fundamental do capitalismo é a produção de mais-valia
fruto da relação existente
nas unidades de produção onde o trabalho mantém sua essência
produtiva. Porém,
essa mesma base, dá origem a outras, improdutivas. Mas a
relação existente
nestas últimas segue a mesma da primeira, onde existem
aqueles que dominam, e
aqueles que são dominados, com a diferença fundamental do
produto originado em
tais espaços de trabalho. Enquanto na primeira trata-se de
um trabalho
produtivo, produção de mais-valia, o segundo é um trabalho
improdutivo,
apropriação e distribuição de mais-valia.
[2]
O
teórico da “idéia existente dos gestores” concebe a
ideologia como “expressão
da prática” (BERNARDO, 1991a, pág. 39), o que pressupõe
entender que partindo
da realidade existente dividida em classes sociais, essas
classes sendo
integrantes da prática, então, cada classe seria portadora
de uma ideologia,
expressaria uma ideologia. Essa concepção oculta o caráter
essencial da
consciência burguesa. Contrário a essa concepção, concebemos
a ideologia como
uma falsa consciência, uma concepção existente,
porém, falsa, que oculta
as relações essenciais de uma determinada realidade, no caso
do capitalismo, é
ideológico aquelas concepções que se prendem à
superficialidade do modo de
produção capitalista, às suas particularidades e não
ultrapassam as barreiras
do pensamento burguês, dificultando a percepção de sua
essência.