O
CAPITALISMO DE
ESTADO DA URSS
Nildo Viana
Publicação original:
Revista Ruptura, Ano 01, num. 01, Maio de 1993. |
Fonte da versão base:
Blog Informe e Crítica, 2011. |
Transcrição: |
Tradução: |
Autorização para
publicação: Nildo Viana. |
Informações
adicionais: http://informecritica.blogspot.com.br/2011/03/o-capitalismo-de-estado-da-urss.html
|
Um Lombardo Radice, por exemplo, fala
de
“Socialismo Despótico”;
outros falam
de “Socialismo de
Estado”; outros,
ainda, de “Capitalismo
de Estado”. Na
verdade, tudo depende do ponto de vista. Se considerarmos o
ponto de vista do
operário, que vende sua força de trabalho, como mercadoria,
ao Estado já que é
o Estado que gerencia a economia e as empresas -para ele,
operário é o mesmo
que viver sob o capitalismo.
Ingolf
Diener
Quando
Marx escreveu O Capital afirmou
que partia do ponto de vista do proletariado. Este, segundo
a teoria marxista,
é o sujeito histórico que abole não só a sociedade burguesa
mas a sociedade de
classes em geral. O mais desenvolvido modo de produção
classista da História -
o capitalismo - explora, domina e aliena o proletariado.
Este resiste, se
levanta e coloca em xeque o capitalismo. Por isso, é o seu
ponto de vista que
pode revelar as contradições da sociedade burguesa e
realizar o que Marx chamou
“a crítica desapiedada do existente”. Hoje, o marxismo foi
apropriado por
outras classes (burguesia, burocracia, etc.) para expressar
um ponto de vista
estranho ao do proletariado. Trata-se, então, de nos
reapropriarmos do marxismo
como “expressão teórica do movimento operário” (Korsch),
inclusive na análise
da URSS e Leste Europeu.
Existem
inúmeras interpretações sobre o
caráter da sociedade soviética. Além daquelas que defendem o
caráter socialista
da sociedade soviética (alguns utilizando adjetivos tais
como “Socialismo de
Estado”, “Socialismo
de Acumulação”, “Socialismo Burocrático”,
etc.) existem
as que consideram uma “Sociedade
de
Transição” que deverá caminhar para o socialismo. Aí
se enquadra a tese
Trotskista do “Estado
operário com
deformações burocráticas” e a teses ambíguas de Rudolf
Bahro que qualifica
a URSS, de forma indecisa, como um regime “Protossocialista”.
Há
também aquelas que julgam que a URSS não é
nem socialista nem capitalista. Trata-se de um modo de
produção ou uma
sociedade pós-capitalista mas não socialista. Os conceitos
são vários: Modo de
Produção Tecnoburocrático, Modo de Produção
Corporativista,
Modo de Produção Estatal, Economia Estatal
Totalitária,
Sociedade Militar, etc.
Entretanto,
a corrente que conseguiu revelar
o verdadeiro caráter da sociedade soviética foi aquela que
qualificou como uma
nova forma de capitalismo: o Capitalismo
de Estado. Já na década de 20 surgem os primeiros
teóricos e os grupos que
defendem esta tese: Amadeo Bordiga e a esquerda comunista
italiana, os
comunistas conselhistas e o grupo “Verdade Operária” na
URSS.
Para
Bordiga, foi a herança do “asiatismo” da
Rússia que impossibilitou a formação do capitalismo em sua
forma clássica e que
gerou o capitalismo de Estado. Este seria uma formação
social transitória e
especificamente russa. O Modo de Produção
Asiático colocou suas intituições a serviço do
desenvolvimento capitalista
gerando a estatização dos meios de produção. Esta seria uma
etapa transitória e
temporária que prepararia a implantação do Capitalismo
Privado.
Os
Comunistas Conselhistas (onde se destacam
Korsch, Pannekoek, Gorter, Wagner, Ruhle e Mattick)
afirmaram que o
desenvolvimento insuficiente das forças produtivas gerou uma
Revolução Jacobina
(que também pode ser
chamada de “Contra-Revolução
Burocrática”)
e esta caracterizou todas as tarefas econômicas necessárias
para a formação do
Capitalismo de Estado. O bolchevismo realizou uma Revolução Jacobina (que, em última instância,
é uma revolução
burguesa) e implantou o capitalismo sob uma nova forma.
Pannekoek diz que essa
forma de capitalismo “é
uma produção
organizada onde o Estado é o patrão universal, o senhor do
aparelho produtivo.
Os trabalhadores são lá tão senhores dos meios de produção
como no capitalismo
universal. Recebem um salário e são explorados pelo
Estado, que é o único
capitalista (e de que tamanho!)” [1].
O
grupo clandestino “Verdade Operária” parte
da análise do desenvolvimento do capitalismo mundial para
explicar a formação
do Capitalismo Estatal da URSS. Segundo este grupo, a
burguesia privada não é
capaz de ultrapassar os interesses de cada ramo da produção
e por isso se torna
necessária a crescente ação do Estado sobre a economia
realizada pela
tecnocracia. Na URSS, houve a fusão da tecnocracia com os
capitalistas
comerciais do período da NEP (Nova Política Econômica) dando
origem a Burguesia
de Estado, sendo o partido bolchevique sua principal
instituição. Essa nova
burguesia criou seu próprio regime econômico: o Capitalismo
de Estado.
Na
década de 30, o historiador Arthur
Rosemberg defenderia, com algumas diferenças, as teses dos
Comunistas
Conselhistas. Segundo ele, “em suas
partes essenciais, o bolchevismo revelou o objetivo que se
colocara. Com a
ajuda do proletariado, derrubou o Tzarismo e fez a
revolução burguesa. Superou
a vergonhosa inferioridade russa, levando o país ao nível
dos Modernos Estados
Burgueses Europeus. Graças à força da classe operária,
conseguiu ainda
substituir a economia e a forma de sociedade capitalismo
privada por uma
moderna organização baseada no Capitalismo de Estado” [2].
Ainda
na década de 30, A. Ciliga defenderia a
teoria de que a Rússia vivia sob o Capitalismo de Estado.
Para ele, Stálin e
Trótski: “... queriam
fazer passar o
Estado pelo proletariado, a ditadura burocrática sobre o
proletariado pela
ditadura do proletariado, a vitória do Capitalismo de
Estado sobre o
Capitalismo Privado e sobre o Socialismo por uma vitória
deste último... Já
tivemos provas suficientes de que o atual sistema da
Rússia preservou todas as
características essenciais do Capitalismo: produção de
mercadorias, salários,
mercados para a troca, dinheiro, lucros, redistribuição
parcial dos lucros
entre os burocratas, sob a forma de altos salários,
privilégios, etc.” [3].
Depois
destes, vários outros pensadores,
militantes e grupos defenderam, de forma diferente, a mesma
tese. M. Rubel,
baseando-se nos escritos de Marx e Engels sobre a Rússia
Czarista, coloca o
surgimento do Capitalismo de Estado Russo como provocado
pelo atraso econômico
do país. As relações de produção dominantes na Rússia
impulsionaram o Estado
soviético a desenvolver o método capitalista da “acumulação primitiva” e consolidar o
Capitalismo de Estado. Outro
exemplo é C. Castoriadis, quando ainda se autointitulava
marxista, que defendia
a URSS como um capitalismo burocrático. As relações de
produção predominantes
na URSS seria uma relação de classe que opunha o
proletariado à burocracia,
classe que dispõe dos meios de produção e com isso efetua a
exploração através
do trabalho assalariado. Para ele, o capitalismo burocrático
e o capitalismo
privado viveriam em um constante conflito que resultaria na
vitória de um sobre
outro.
O
Trotskismo também produziu teóricos e
grupos que caracterização a URSS como Capitalismo de Estado:
No fim da década
de 30, James Burnham e Max Schachtman, da secção americana
da IV Internacional;
na década de 50, Toni Cliff; na década de 70, o grupo
dissidente francês “União
Operária”. Alguns grupos e teóricos não trotskistas, como o
grupo inglês Solidarity,
também reconheceram o
caráter capitalista da Rússia. Seria impossível aqui uma
lista exaustiva
daqueles teóricos e grupos que defenderam a teoria do
Capitalismo de Estado,
tanto por desconhecimento quanto por falta de espaço para
realizar tal feito.
Mas,
para concluir, devemos expor as teses de
três teóricos que, na década de 70, retomaram a concepção do
Capitalismo de
Estado da URSS. Eles são: o autonomista português João
Bernardo, o bordiguista
Jean Barrot e o maoísta Charles Bettelheim.
Para
Jean Barrot, foi o movimento do capital
que gerou o capitalismo russo. Mas, para ele, o Capitalismo
de Estado não é,
como era para Bordiga, uma fase necessariamente transitória
para o capitalismo
privado. Segundo Barrot, “a partir de
1914 a potência do capital escapa à burguesia - visto que
esta procura, antes
de mais nada, controlar o seu progresso, o capital
encontra novos agentes
capazes de levar a bom termo o seu crescimento. O fenômeno
existia já no século
XIX (Mehemet Áli), mas alargou-se aqui a todo um conjunto
de países
subdesenvolvidos ou relativamente atrasados. O mais
notável exemplo é, sem
dúvida, o da revolução russa. A Rússia tem um proletariado
importante pelo seu
número e pela sua concentração, mas que se encontra
rodeado -cercado- por uma
massa camponesa enorme. A burguesia nacional é ali
relativamente débil, já que
o desenvolvimento econômico foi sobretudo o produto do
capital estrangeiro e do
Estado. A revolução expropria o primeiro e destrói o
segundo. Depois do refluxo
do movimento na Europa, o capital é assumido, não por uma
“nova” classe -o que
suporia novas relações de produção, já não capitalistas
mas outras-, mas por
uma burguesia cujo papel social é o mesmo, embora com
modos de constituição e
funcionamento diferentes dos da burguesia clássica: possui
os meios de produção
por intermédio do Estado -por conseguinte, digamos, a
título coletivo, o que
não exclui aliás uma autonomia mais ou menos larga das
empresas (...). A
burguesia de Estado formou-se a partir de antigos
militantes operários, de
quadros da indústria ou da administração” [4].
Charles
Bettelheim reavalia suas
análises sobre a URSS, a qual ele definia como uma sociedade
socialista, e
passa a defini-la como um Capitalismo de Estado. A principal
diferença entre os
teóricos do caráter capitalista da Rússia está na explicação
da origem do
capitalismo russo. Para Bettelheim esta origem se encontra
na solução dada à
questão da aliança operário camponesa. As contradições no
campo e as limitações
da política do partido bolchevista reforçaram a tendência do
campesinato,
principalmente o médio, a exercer uma prática política
pequeno-burguesa e este
foi o principal elemento que, aliado a outros, provocou o
retrocesso da
revolução de outubro através da autonomização crescente do
Estado que acabou
reproduzindo as relações de produção capitalistas [5].
João Bernardo,
por sua vez, afirma que
a tecnocracia é uma classe social que pode dar um “novo
fôlego” ao capitalismo.
O partido bolchevique cumpriu este papel e criou o
Capitalismo de Estado russo.
Este se diferencia do capitalismo clássico pela forma de
realização da lei do
valor, lei fundamental do modo de produção capitalismo. No
capitalismo privado
a lei do valor se realiza nos preços do mercado e no
Capitalismo de Estado no
jogo dos planos. Daí decorrem diversas outras diferenças
como a forma de
distribuição da mais-valia e a forma de reprodução dos
“Capitalistas de Estado”
mas o fundamental do modo de produção capitalistas, a lei do
valor, continua
existindo e se realizando. J. Bernardo considera que o
capitalista monopolista
de Estado tende a se transformar em Capitalismo de Estado
integral, do tipo
soviético. A questão a ser resolvida é: ou o socialismo
construído pelo
proletariado através da autogestão social ou a barbárie
capitalista comandada
pela tecnocracia reproduzida como burguesia de Estado [6].
Depois
deste breve histórico das teorias de
Capitalismo de Estado, passemos para a análise da formação
desta teoria. A
determinação fundamental que levou ao surgimento do
capitalismo de “novo tipo”
foi o desenvolvimento insuficiente das forças produtivas. A
Rússia era um país
pré-capitalista em transição para o capitalismo.
Entretanto,
o desenvolvimento insuficiente
das forças produtivas não gera, por si só, o Capitalismo de
Estado ou, como
dizem alguns, a “burocratização”. O atraso da Rússia
Czarista forma as
condições determinadas nas quais se desenvolveram as lutas
de classe. Essas
condições dadas colocam as possibilidades históricas que
poderão ser
concretizadas e que serão definidas através das lutas de
classes. A Rússia
poderia ter caminhado para o Socialismo, o Capitalismo
Privado, o Capitalismo
de Estado, etc., pois a História é aberta. isto, contudo,
não quer dizer que
ela seja arbitrária: No presente se revelam as tendências de
desenvolvimento
futuro e a tendência que irá prevalecer depende da ação
humana expressa na luta
de classes.
Marx
e Engels já haviam observado que a
burguesia não lançaria mais as massas em uma luta
revolucionária devido ao medo
de que estas se voltassem contra ela. A burguesia se tornou
contra-revolucionária a partir da segunda metade do século
XIX. Na Rússia
atrasada, a burguesia nascente não iria assumir um papel
revolucionário e não
romperia sua aliança com o Czarismo. Lá o mais provável
seria a realização de
uma “revolução burguesa sem burguesia”. Com o regime
czarista em crise e com a
pouca possibilidade de implantação do capitalismo privado,
divido a debilidade
da burguesia russa, restava com tendências principais: o Capitalismo de Estado e o Socialismo.
É
neste país em transição para o capitalismo,
que contava com aproximadamente 70% da população formada por
camponeses e com
uma classe operária em formação, que surge o bolchevismo.
Lênin, o principal
líder e o mais influente teórico bolcheviche, escrevia, em
1902, que o
proletariado jogado a si mesmo chegaria no máximo a uma
consciência sindical e
isto significa ficar nos limites da ideologia burguesa. A
consciência de classe
seria introjetada “de fora” pelos intelectuais
revolucionários do partido de
vanguarda [7]. Esta é, claramente, uma
ideologia
da tecnocracia, pois reproduz a divisão entre dirigentes e
dirigidos, entre
trabalho intelectual e trabalho manual. O partido sendo a
“vanguarda” da classe,
então, a conquista do poder estatal por ele passa a ser
equivalente à ditadura
do proletariado. Em 1902 já estava justificado o Golpe de
Estado de outubro de
1917.
O
partido substitui a classe operária
como “sujeito revolucionário” e por isso deve ser coerente e
eficiente nas suas
ações políticas. Para isso ocorrer deve haver centralização,
disciplina e
unidade de ação. Isso tudo torna o “centralismo
democrático” uma necessidade. Neste sentido, ideologia
e organização estão
unificadas e se complementam.
O
proletariado russo, apesar da ideologia da “nulidade
operária” criada por Lênin, cria os sovietes (conselhos
operários) na revolução
de 1905 e novamente na revolução de fevereiro de 1917 [8].
O próprio Lênin reconheceu a espontaneidade revolucionária
do proletariado na
revolução de fevereiro: “Em fevereiro de
1917 as massas organizaram os sovietes antes mesmo que
algum partido tivesse
tido tempo de lançar esta palavra de ordem. O grande gênio
criador do povo,
temperado pela amarga experiência de 1905, que o tornara
consciente, eis o
artifície desta forma de poder proletário” [9].
Com a revolução de fevereiro se implanta uma dualidade de
poderes: de um lado,
o poder contra-revolucionário expresso no Estado Czarista,
de outro lado, o
poder revolucionário expresso nos sovietes.
Os
bolcheviques, com o Golpe de Estado de
outubro, assumem o poder do Estado e a partir disto a
dualidade de poderes
começa a se resolver em favor do “Estado
burguês mas sem burguesia” de Lênin. Os bolcheviques
no poder pregam a “gestão
individual das empresas”, a implantação do Taylorismo
(método tipicamente
capitalista de gestão nas fábricas), a militarização dos
sindicatos e, além
disso, esvaziam os sovietes implantando a ditadura do
partido [10].
O
bolchevismo realiza, através do exército vermelho, a
contra-revolução na
Ucrânia destruindo a coletivização camponesa lá
realizada [11].
Abole as frações dissidentes internas do partido como os
“Comunistas de
Esquerda”, a “Oposição Operária” e os “Centralistas
Democráticos” [12].
A insurreição de Kronstadt declarada
pelos marinheiros pretendia reestabeler os sovietes, como
demonstra o Izsvestia
de Kronstadt de 6 de março de 1921: “Nossa
causa é justa. Somos pelo poder do sovietes e não dos
partidos. Somos pela
eleição livre dos representantes das massas trabalhadoras.
Os sovietes
falsificados, monopolizados e manipulados pelo partido
comunista sempre foram
surdos às nossas necessidades e exigências; a única
resposta que recebemos foi
a bala assassina” [13]. O massacre
de
Kronstadt demonstrou que dessa vez não seria diferente. Com
a dominação
bolcheviche nascida da fusão do partido com o Estado surge
uma camada
burocrática que cresce cada vez mais. A burocracia dominante
surge de quadros
do partido, do Estado Czarista, das indústrias, da pequena
burguesia e em menor
grau do campesinato e até mesmo da classe operária. A
burocracia (Burguesia
do Estado) se fortalece e
consolida enquanto classe dominante durante o período do
“comunismo de guerra”
e durante a NEP (Nova Política Econômica). A ascensão de
Stálin demonstra essa
consolidação. A classe dominante, expressa perfeitamente no
stalinismo,
encontra a partir de então, dois obstáculos: a burocracia
dissidente liderada
por Tróstski e o campesinato. A repressão à “oposição
unificada” que vai
até os processos de Moscou e a “estatização forçada”, que
proporcionou a
chamada “acumulação
socialista primitiva”
através da superexploração dos camponeses, removem estes
obstáculos [14]. O
Capitalismo de Estado passa a predominar na
URSS.
Mas resta
saber: o que é o Capitalismo
de Estado? Desde Marx sabemos que a definição de um modo de
produção se
encontra nas relações de produção dominantes em uma
sociedade.
As
relações de produção capitalistas são
aquelas em que a produção de mercadorias e a lei do valor se
generalizam ao
ponto da própria força de trabalho se tornar uma mercadoria.
O valor de uma
mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho socialmente
necessário para sua
produção. Os trabalhadores devem estar separados dos meios
de produção e ter
como única mercadoria sua força de trabalho. Por isso, eles
são obrigados a
vender sua força de trabalho ao capital. Este paga em forma
de salário o mínimo
necessário para sua reprodução. Entretanto, a força de
trabalho produz mais do
que o necessário para a sua reprodução e este excedente
produzido é apropriado
pelo capital. O excedente é a mais valia e esta apropriação
expressa o domínio
do trabalho morto sobre o trabalho vivo.
Na
URSS, os trabalhadores estão separados dos
meios de produção e só possuem a sua força de trabalho como
mercadoria para
vendê-la ao capital. Entretanto, assim como no capitalismo
privado, eles só
recebem, em forma de salário, o necessário para sua
reprodução enquanto força
de trabalho e produzem um excedente que é apropriado pelo
capital, a mais
valia. Como se vê, o fundamental das relações de produção
capitalista está
presente na URSS.
Contudo,
existem algumas diferenças. No
capitalismo privado predomina a propriedade privada
individual e no Capitalismo
de Estado predomina a propriedade privada de uma classe que
a gera
coletivamente através do Estado. Esta diferença, por sua
vez, cria outras
diferenças, mas que não coloca em questão o caráter
capitalista das relações de
produção nas URSS.
Este
é o ABC da teoria do Capitalismo de
Estado. Os opositores desta teoria colocam dois obstáculos
principais, a saber:
em primeiro lugar, dizem que a burocracia não é uma classe
dominante pois ela
não é uma classe proprietária; em segundo lugar, afirmam que
não há predomínio
da lei do valor na URSS. Aprofundaremos a teoria do
Capitalismo de Estado
respondendo a estas questões.
Em
primeiro lugar, devemos colocar que a
burocracia (Burguesia
de Estado) é
uma classe proprietária. Na URSS a propriedade jurídica é
coletiva, mas a
propriedade real é privada. Segundo Marx “em
cada época histórica, a propriedade desenvolveu-se
diferentemente e numa série
de relações sociais totalmente distintas. Por isto,
definir a propriedade
burguesa não é mais do que expor todas as relações sociais
da produção burguesa”,
pois, “pretender dar
uma definição da
propriedade como uma relação independente, uma categoria à
parte, uma idéia
abstrata e universal – isto não pode ser mais que uma
ilusão de metafísica ou
jurisprudência” [15]. As relações
de
propriedade são uma expressão jurídica (e portanto,
ideologia) das relações de
produção [16]. Portanto, é
no conjunto das
relações de produção que se determina a existência e a forma
de propriedade. O
título de propriedade é apenas uma justificativa ideológica
que a classe
proprietária utiliza para manter o seu controle sobre os
meios de produção e a
força de trabalho. Não é através do título jurídico que
poderemos definir se
existe propriedade ou qual sua forma. A definição só pode
ser realizada através
do conhecimento de quem controla as forças produtivas.
Propriedade real e
controle da propriedade são inseparáveis. Somente na
ideologia, na propriedade
jurídica, pode haver a separação entre propriedade e
controle.
No
capitalismo privado, os proprietários
individuais justificam a exploração através do título de
propriedade privada.
No Capitalismo de Estado, ao contrário, a burocracia
justifica a exploração ao
declarar que a propriedade dos meios de produção pertencem
ao povo mas é
dirigido pelo Estado, ou seja, pela burocracia. A expressão
jurídica da
propriedade burguesa no capitalismo privado se caracteriza
por afirmar a sua
existência e compromisso justificar o controle sobre as
forças produtivas e no
Capitalismo de Estado se caracteriza por afirmar sua
“inexistência” e é
justamente isso que justifica o controle sobre as forças
produtivas realizado
pelo “coletivismo
burocrático”. A
propriedade real está presente em ambos os casos mas a
propriedade jurídica
está presente apenas em um. Pois, na URSS, a propriedade
pertence ao povo e se
pertence a todo mundo quer dizer, no final das contas, que
“não pertence” a
ninguém.
A
existência do controle estatal sobre as
forças produtivas realizado pela burocracia demonstra que
essa é uma relação de
classe e, conseqüentemente, uma relação de exploração. C.
Castoriadis
demonstrou isso muito bem, embora não tenha demonstrado como
observou J.
Barrot, que esta exploração é capitalista. Pois todas as
relações de classe e
de exploração se baseiam neste pressuposto do controle sobre
as forças
produtivas. Portanto, é preciso demonstrar o caráter
especificamente
capitalista desta exploração. O que define isso é a forma
como se dá a
apropriação do mais-trabalho e está se dá, no capitalismo
através da extração
da mais-valia. Como demonstramos anteriormente, a burocracia
extrai
mais-trabalho dos produtores diretos em forma de mais-valia,
assim como a
burguesia privada, e decide o que será feito com o excedente
produzido, dentro
dos limites impostos pela dinâmica do modo de produção.
Portanto,
o essencial é definir se há ou não
o predomínio da lei do valor na URSS. A lei do valor só pode
existir havendo um
alto grau de desenvolvimento da divisão social do trabalho e
com isso provocar
a separação entre os ramos de produção e entre produtores e
consumidores – ou seja,
superação da produção de auto-subsistência, o que significa
que o produtor
deixa de produzir para o seu próprio consumo e passa a
produzir para vender o
produto no mercado- e com isso criar a necessidade de troca
de mercadorias.
Isto significa que, para se implantar o modo de produção
capitalista, estas
condições precisam ser complementadas com a separação entre
produtores e
meios de produção. Essa separação provoca a necessidade dos
produtores de
venderem sua força de trabalho em troca de um salário com o
qual garantirá sua
reprodução. Como a força de trabalho recebe um salário que é
inferior ao que
foi produzido se cria um excedente, a mais-valia, que é
apropriado pelo
capital. Isto quer dizer que a força de trabalho é uma
mercadoria sui
generis, pois só ela produz mais-valor e este ao ser
apropriado pelo
capital cria sua reprodução ampliada. Para que essa
reprodução ampliada de
capital se realize é necessário não só a produção de
mais-valia mas também a
competição entre capitais individuais, pois esta obriga a
burguesia a
reinvestir cada vez mais em meios de produção. Estas
condições e premissas da
produção capitalista estão presentes na URSS, onde o
desenvolvimento da divisão
social do trabalho criou uma ampla separação entre os ramos
de produção, entre
produtores e consumidores e, finalmente, entre os
trabalhadores e meios de
produção. Isto, por sua vez, verá o trabalho assalariado, a
produção da
mais-valia, e conseqüentemente, a acumulação de capital. O
único dos elementos
acima citados que se poderia argumentar que não existe na
URSS é a competição
entre capitais individuais, pois lá a propriedade é
monopólio do Estado. Mais
isto não é correto e demonstraremos isto a seguir.
A
reprodução ampliada do capital é impulsionada
pelo mercado mundial e pelas relações comerciais e
monetárias internas da URSS.
Essas relações nunca deixaram de existir: já existia no
período do “comunismo
de guerra” e se aprofundou com
a NEP (Nova Política Econômica) e esta criou, no seu
final, as condições
necessárias para sua reprodução na economia estatizada [17]. A
“estatização
forçada” criou os Kolkhozes
(que deveriam ser cooperativas) como um forma de propriedade
estatal. O Estado
recebe dos Kolkhozes
renda da terra
em forma de altos impostos. Eles são dirigidos pela
burocracia Kolkhoziana que
repassa os impostos para o Estado e retira privilégios e
rendimentos superiores
aos do campesinato. Estes “rendimentos superiores” são
justificados pelo “trabalho
por rendimento” que calcula as tarefas de acordo com o grupo
ao qual se
pertence (burocracia, agrônomo, tratorista ou camponês). A
burocracia
kolkhoziana se inscreve na nomenclatura, ou seja, é nomeada
pela burocracia
estatal, sendo, portanto, intocável.
Os
camponeses possuem, entretanto, suas
pequenas parcelas de terrenos individuais atrás de suas
casas. Eles se
alimentam através do trabalho nestes terrenos e também a
maior parte da
população urbana apesar de serem apenas 3% das terras
cultiváveis. Estes
produtos são vendidos pelos camponeses diretamente à
população criando uma
forma de comércio livre.
As
diferenças entre as fazendas estatais (Sovkhozes) e as
empresas “ditas”
cooperativas (Kolkhozes)
são: a) A
forma de remuneração nas primeiras é realizada através do
salário e nos
Kolkhozes através do “trabalho efetuado”, embora
juridicamente em 1966 a
remuneração passasse a ser igual a dos Sovkhozes; b) As
parcelas individuais de
terra existentes nos Kolkhozes e inexistentes no Sovkhozes;
e c) Os Sovkhozes
repassam para o Estado o excedente em forma de lucros e os
Kolkhozes em forma
de impostos.
O
chamado “mercado negro” urbano e a reprodução das
pequenas propriedades
urbanas são outras formas de expressão das relações
comerciais e monetárias na
URSS. Quando há qualquer troca entre os Sovkhozes e o Estado
ou entre os este e
os Kolkhozes se manifesta a lei do valor. Quando as unidades
de produção (as
empresas estatais) trocam meios de produção entre si também
atua a lei do
valor. Isto é possível porque cada empresa tem “autonomia financeira”. As empresas estatais
possuem seus fundos
próprios; compra e venda e seus meios de produção,
matérias-primas,
combustíveis, etc.; possuem autonomia para decidir o número
de assalariados e a
forma de contrata-los e dispensa-los; e se auto-financiam
através de suas
receitas e do sistema bancário.
Neste
sentido, as empresas estatais funcionam
como capitais individuais. As trocas entre as
“cooperativas”, as fazendas
estatais, as unidades de produção aliadas com a produção
mercantil da pequena
propriedade camponesa e urbana juntamente com o
mercado negro demonstram
as várias formas de manifestação das relações comerciais e
monetárias na URSS.
Essa
autonomia das unidades de produção,
aliada às demais formas de relações comerciais e monetárias,
torna necessário a
comparação entre as mercadorias para medir o tempo de
trabalho socialmente
necessário. A divisão social do trabalho expressa aí cria a
necessidade de
submissão à lei do valor. Cria-se também, uma competição
embora num nível bem
inferior em comparação com o capitalismo privado. A dinâmica
da acumulação de
capital sob o Capitalismo de Estado é impulsionada
principalmente pela
competição internacional que se realiza no mercado mundial.
A
lei do valor e a acumulação de capital
“soviéticos” estão submetidos ao mercado mundial. Tanto a
produtividade do
trabalho, que é necessariamente comparada ao mercado
mundial, quanto a decisão
na produção nos meios de produção, estão na URSS, devido ao
comércio externo,
condicionadas pelo mercado mundial. No seu comércio externo,
as suas trocas com
o COMECON representavam 54% e as trocas com os países
imperialistas do Ocidente
31%, enquanto que as efetuadas com os países capitalistas
13%.
O
capital internacional também interfere
internamente na economia “soviética”, pois existem diversas
empresas
estrangeiras na URSS como a General Motors, Shell,
Coca-Cola, Mitsubishi,
Krupp, Basf, Control Data, Brown Boveri, Exxon, Union
Carbide, etc, etc. Estas
empresas atuam na URSS na forma de co-produção industrial. A
co-produção
industrial se baseia num acordo em que a URSS assume o papel
de ceder força de
trabalho e instalações enquanto que os países imperialistas
do Ocidente
fornecem máquinas, técnicas de gestão, licenças, etc. Nestas
empresas, a
mais-valia é repartida entre a burocracia “soviética” e o
capital
internacional. Além desse tipo de acordo existem inúmeros
outros isto torna
necessário a presença de bancos estrangeiros na URSS.
A
URSS não só explora os camponeses
soviéticos como também avança sobre outros países realizando
uma verdadeira
expansão imperialista. A fase imperialista do Capitalismo de
Estado russo é
demonstrada tanto através do “velho imperialismo” (dominação
político-militar
direta), como ocorreu no Afeganistão, quanto através da
exploração dos países
do Leste Europeu no comércio internacional. Existe entre a
URSS e o Leste
Europeu uma “troca desigual” e o exemplo da Hungria deixa
isso bem claro: “no
caso da Hungria, enquanto esta, de 16
Rublos passou a pagar 36 par tonelada de petróleo
importado da URSS, o que
significou o aumento de 131% (na verdade, 125% - NSV), os
preços das máquinas
que ela vendeu à URSS tiveram um aumento de apenas 33%” [18].
A URSS se não bastasse isso, implantou no Leste Europeu
“empresas mistas” com
50% de capital soviético e 50% de capital nacional. Isso
além das empresas que
foram cedidas pela Alemanha Oriental como pagamentos de
indenização pelas
destruições da II Guerra Mundial e se tornaram propriedades
soviéticas [19].
A
luta de classes na União Soviética depois
da II Guerra Mundial revela, após um breve período de “reconstrução nacional” um processo de
acirramento crescente. Os
problemas sociais como, por exemplo, a crise da agricultura,
a questão da
habitação, os desperdícios produzidos pela planificação
burocrática, se
acumulavam e criavam enormes conflitos sociais. A própria
classe dominante,
principalmente após a morte de Stálin, sempre estava
envolvida em lutas
inter-burocráticas visando a ascensão ao cume da pirâmide do
poder ou então
buscando uma repartição mais favorável da mais-valia.
Cabia ao partido “comunista”
mediar as lutas inter-burocráticas e através do Estado
manter a unidade da
classe dominante. A repressão era o meio mais eficiente e
utilizado para
reproduzir sua dominação, tal como expressa nos campos de
concentração (GULAGS)
e nos hospitais psiquiátricos, pois, como escreveu um
soviético dissidente, a
oposição era uma “nova
doença mental na
URSS” (V. Bukowski). Mas esta repressão contava com o
reforço da dominação
ideológica realizada pelos aparelhos culturais e
educacionais do Estado
soviético. Nas instituições educacionais havia o ensino
obrigatório do chamado “marxismo”-leninismo,
a ideologia oficial do capitalismo estatal russo.
Entretanto, estes aparelhos
culturais e educacionais também eram garantidos pela
repressão, pois não havia
liberdade de imprensa e de produção científica, artística e
cultura. O
monopólio estatal dos meios de produção cultural produziu,
conseqüentemente, o “monopólio”
da produção cultural.
Toda
essa repressão e controle tem como
objetivo reproduzir as relações de produção capitalistas na
URSS. A resistência
operária e camponesa se expressava, num primeiro momento,
como luta de classes
na produção. Os camponeses dos kolkhozes,
por exemplo, preferiam produzir nas suas parcelas
individuais de terras
do que nos kolkhozes
e isto provocava
uma baixa produtividade do trabalho. A resposta da
burocracia era a tentativa
de submeter a produção individual à exploração realizada
através das trocas
comerciais, o que, por sua vez, gerava novos conflitos
sociais. Nas fábricas,
os operários se encontram submetidos aos métodos tipicamente
capitalistas de
controle da produção, por exemplo, o sistema Taylor, e por
isso apresentam
também uma baixa produtividade do trabalho. A burocracia
tentou resolver a
questão com os “incentivos materiais” (idéia importada da
Europa Ocidental)
mas, como demonstrou a História, fracassou totalmente. A
repressão generalizada
na sociedade russa acontecia justamente por causa do
descontentamento e resistência
crescente das classes exploradas. A burocracia utilizava
como “arsenal
ideológico” as acusações aos dissidentes de
“contrarrevolucionárias”, “loucos”,
“agentes do imperialismo”, etc., para justificar a
repressão. As burocracias
das repúblicas “soviéticas” utilizavam-se das tradições
nacionalistas,
acirradas pela opressão russa, para incentivar mobilizações
de trabalhadores
como o objetivo de pressionar Moscou para conseguir uma
repartição mais
favorável da mais-valia.
A
resistência operária na produção atinge
níveis elevados quanto a sua luta contra o aumento da
produtividade e da
extração de mais-valia chega ao ponto de apelar para as
greves e se exige
melhores salários; pois isto significaria uma diminuição na
extração de
mais-valia por quanto isso não fosse acompanhado pelo
aumento da produtividade
ou da jornada de trabalho, o que efetivamente não ocorria. A
resistência
operária fora do local de produção se expressa na formação
de sindicatos
independentes e de organizações clandestinas de esquerda. A
burocracia reage,
obviamente, com a repressão crescente e generalizada na
sociedade russa.
Assim,
a luta de classes na União Soviética
apresentava uma onda de “mais-repressão”
crescente tanto no campo quanto na cidade. A burocracia
estatal buscava centralizar
ainda mais os Kolkhozes
com medo das
tendências auto gestionárias dos camponeses e reprimir todas
as formas de
organizações não-estatais e manifestações políticas nas
cidades com medo da
auto-organização da classe operária. No entanto, o
descontentamento e a luta
dos trabalhadores para transformar suas condições de
existência e, consequentemente, abolir o capitalismo estatal
russo e construir a autogestão
social, revelam as contradições da sociedade soviética que
mais cedo ou mais
tarde provocarão o rompimento com esse “mundo
concentracionário”.
Antes
da crise da URSS e do Leste Europeu
criticar o chamado “socialismo real” era sinal de
“trotskismo” ou “direitismo”.
Mas, na realidade, como disse F. Claudin, para a direita e o
imperialismo “o que
lhes interessa conservar é o equívoco
colossal de que aquilo é socialismo. Que argumento melhor
para comprometer o
ideal socialista diante das classes trabalhadoras e dos
intelectuais do
Ocidente? Na verdade, quem faz o jogo da direita são
aqueles que coincidem com
ela em conceber o diploma de socialismo às ditaduras
totalitárias do leste” [20].
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Outros
[1] Pannekoek, Anton. A
Luta Operária.
Coimbra, Centelha, 1977, p. 73.
[2]
Rosemberg, A. História do
Bolchevismo. Belo Horizonte, Oficina de Livros, 1989,
p. 275.
[3]
Cit. por: Jerome, W. &
Buick, A. A Natureza da URSS. Porto, Afrontamento,
1977, p. 219.
[4] Barrot, Jean. O
Movimento Comunista.
Lisboa, Etc, 1975, p. 258.
[5] Cf. Bettelheim,
Charles. A Luta de Classes na
União Soviética. vol. 1. 2a. edição, Rio de Janeiro,
Paz e Terra, 1979.
[6] Cf.
Bernardo, João. Para Uma
Teoria do Modo de Produção Comunista. Porto,
Afrontamento, 1975.
[7] Cf. Lênin, W. Que
Fazer? São Paulo,
Hucitec, 1988.
[8] Cf.
Volin. A Revolução
Desconhecida. São Paulo, Global, 1980; Trótsky, Leon.
A Revolução de
1905. São Paulo, Global.
[9]
Cit. por: Medvedev, Roy. Era
Inevitável a Revolução Russa? Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1978,
p. 49.
[10] Cf.
Brinton, Maurice. Os
Bolcheviques e o Controle Operário. Porto,
Afrontamento, 1975.
[11] Cf.
Machnó, Nestor. A “Revolução”
Contra a Revolução. São Paulo, Cortêz, 1988.
[12] Cf.
Kollontai, Alexandra. A
Oposição Operária. 1920-1921. São Paulo, Global, 1980.
[13]
Cit. por: Arvon, Henri. A
Revolta de Kronstadt. São Paulo, Brasiliense, 1984, p.
43.
[14]
Geralmente se fala em “coletivazação
forçada” mas isto nao é
correto, pois “um
kolkhoze, ou aquilo que
deveria ser uma propriedade coletiva, é um organismo que,
pela sua própria
natureza difere essencialmente de uma associação
cooperativa. Na realidade um
kolkhoze é um organismo estatal que tende a transformar os
camponeses em
operários agrícolas que cumprem suas tarefas por medo de
sanções penais”
(Mett, Ida. O Camponês Russo Durante e Após a Revolução.
Porto, A Regra
do Jogo, 1975, p.).
[15] Marx, Karl. A
Miséria da Filosofia.
2a. edição, São Paulo, Global, 1989, p. 143.
[16] “Em certo estágio de desenvolvimento, as forças
produtivas materiais da
sociedade entram em contradição com as relações de
produção existentes ou, o que
é a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade
no seio das quais se
tinham movido até então. De forma de desenvolvimento das
forças produtivas,
estas relações transformam-se no seu entrave. Surge então
uma época de
revolução social. A transformação da base econômica
altera, mais ou menos
rapidamente, toda a imensa superestrutura. Ao considerar
tais alterações é
necessário sempre distinguir entre a alteração material -
que se pode comprovar
de maneira cientificamente rigorosa - das condições
econômicas de produção, e
as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou
filosóficas, em
resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam
consciência deste
conflito, levando-o as suas últimas consequências”
(Marx, K. - Contribuição
à Crítica da Economia Política. Segunda Edição, São
Paulo, Martins Fontes,
1983, p. 24 - 25).
[17] Cf.
Bettelheim, Charles. A
Luta de Classes na União Soviética. Vol. II. Rio de
Janeiro, Paz e Terra,
1983.
[18]
Tragtenberg, Maurício. Reflexões
Sobre o Socialismo. 3a. edição, São Paulo, Moderna,
1989.
[19] Cf.
Borsi, Emil. Formação das
Democracias Populares na Europa. Lisboa, Avante!,
1981.
[20]
Claudin, Fernando. A Oposição
no “Socialismo Real”. Rio de Janeiro, Marco Zero,
1983, p. 287.